segunda-feira, 25 de julho de 2011

FORFUN - Alegria Compartilhada

Na mesma linha do segundo disco, que se distanciou do estilo punk rock original da banda, o novo álbum abre as portas para outras influências musicais.Aposta em um estilo mais brasileiro e investe em referências latinas que vão do reggae ao soul, com uma pitada de samba rock, mas sem perder o naipe dos metais.
FONTE: Jornal Extra, segunda-feira, 25 de julho de 2011;






"Alegria Compartilhada", terceiro disco do grupo Forfun, é a afirmação da guinada musical iniciada em "Polienso", o segundo da carreira deles. O hardcore da estreia não dá as caras, pelo menos não explicitamente. "Realmente não aparece de forma tão clara", concorda Vitor Insensee, vocalista e tecladista do quarteto. "Mas de nenhuma maneira é uma coisa que a gente renega. Faz parte da história da banda, se apressa em esclarecer. Reggae, funk, rap e até um pouco de samba-rock são as atuais influências do novo som dos cariocas, que chamaram Daniel Ganjaman, membro do respeitado coletivo musical Instituto, para assinar a produção. "Convidá-lo foi uma ideia que partiu de nosso empresário (Marcos Sketch). O Ganjaman é um cara versátil que transita bem pelo lance do hip hop, do reggae e do rock'n'roll. Ele é muito talentoso.", elogia o tecladista.
Deixar pra trás o gênero que deu notoriedade à banda foi um risco. Vitor concorda: "Lógico que a gente se perguntou se mudar a sonoridade e buscar outros horizontes não poderia fazer a gente fazer perder o público. Mas eu acho que o público se reformou junto com a banda. Temos recebido um feedback positivo". A banda disponibilizou o novo álbum gratuitamente em seu site, assim como já havia feito antes. Além de todas as músicas, é possível baixar a capa e o encarte com as letras. A versão virtual de '"Alegria Compartilhada" já se aproxima de 250 mil downloads.
FONTE: Revista Billboard ed.22 agosto/2011;

ZIGGY MARLEY - Wild And Free

Filho de Bob Marley e seu sucessor musical entre os 13 herdeiros, Ziggy Marley comprova o que todos já sabem: que não tem o talento do pai. Mas quando consegue fazer um bom CD. A faixa-título, com participação de Woody Harrelson, é uma prova disso. Outra música que merece destaque é "Change".


FONTE: Jornal Extra, segunda-feira, 25 de julho de 2011;

CHICO BUARQUE - Chico

Cinco anos após o lançamento de su último disco de inéditas, "Carioca", Chico Buarque volta às prateleiras com "Chico", isso mesmo, sem o sobrenome. Mas para os famintos por novidades, um aviso: o compositor foi extremamente econômico. O CD tem apenas dez faixas, totalizando pouco mais de 30 minutos. E duas das músicas já haviam aparecido em álbuns de outros artistas. O preço, porém, não seguiu a mesma linha. O valor sugerido pela gravadora é de R$ 29,90. Menos mal que, na hora de colocar seu talento à prova, Chico não economizou nada.
Já de início ouve-se a bela "Querido Diário", cujo verso "Amar uma mulher sem orifício" provocou muitos comentários na internet. Logo depois, a marchinha "Rubato" faz o nível cair. Mas aí a ótima "Essa Pequena" rouba a cena, narrando o romance de um homem mais velho com uma menina. Seria o dele, 67 anos, com Thaís Gulin, 31? A cantora paranaense aparece em "Se Eu Soubesse", a canção que já estava no disco da moça.
"Sou Eu" também não é novidade - já foi gravada por Diogo Nogueira. Outras belas faixas merecem atenção: "Sem Você 2", "Barrafunda" e "Sinhá", que fecha o CD com gostinho de quero mais.
FONTE: Jornal Extra, segunda-feira, 25 de julho de 2011;







Lançado com uma campanha de divulgação até então inédita no mercado da música popular brasileira, esteChico, que aparece cinco anos depois de Carioca(2006), é de uma aparente simplicidade franciscana, para ficar no trocadilho fácil. Com arranjos do violonista Luiz Claudio Ramos, o novo álbum de Chico Buarque traz dez músicas e nelas três temas se embaralham: memória/solidão, conflito de idade e metamúsica. Inicia-se com “Querido Diário”, uma espécie de “Cotidiano”. Nesta, o poeta se relacionava com uma mulher (“todo dia ela faz tudo sempre igual”) e hoje, só, topa “amar uma mulher sem orifício”. Chico regravou com Thais Gulin “Se Eu Soubesse”, já registrada no disco dela, ôÔÔôôÔôÔ. Aqui, o eu lírico é feminino, ao lembrar “Ah, se eu pudesse não caía na tua... fugia nos braços de outro rapaz”. A novidade é a harpa de Cristina Braga nos acompanhamentos. Na jobiniana “Sem Você 2”, o poeta lamenta a ausência da musa e a solidão o faz ouvir nuvens (o poeta parnasiano ouvia estrelas). Mas também pode ser a ausência das músicas do mestre, “as suas músicas você levou”, que o entristece. “Sem Você” é originalmente um tema de Jobim. A musa de Moscou da valsa “Nina” proporciona o tema moderno do CD, apontando para o Google Maps e a solidão dos relacionamentos virtuais. “Nina diz que se quiser eu posso ver na tela... a chaminé da casa dela”. A confusão mental na lembrança das mulheres em “Barafunda”, e o clima de festa, com “saia amarela” e “bandeiras vermelhas”, remetem à ressaca alegre de “Pelas Tabelas”, de 1984. “E salve este samba antes que o esquecimento baixe o seu manto”, ele canta no tema mais alegre do CD, apesar do acento nostálgico. A diferença de idade nos relacionamentos aparece em “Essa Pequena”, um semiblues que descreve a relação de alguém de “cabelo cinza” com uma mulher nova de “cabelos cor de abóbora”. O homem quer ir “até a esquina”, “ela quer ir para a Flórida”. Com uma desilusão à vista, ele assume que mesmo assim “o blues já valeu a pena”. O uso irônico da linguagem mequetrefe do universo juvenil dá o tom em “Tipo um Baião” com “porém você diz que está tipo a fim” e “igual que nem”. E as referências à própria música, a metamúsica, vêm como um reforço já no título. É a única música do CD que tem uma guitarra nos acompanhamentos, e o último acorde, distorcido, é justamente o da guitarra, o que não deixa de causar estranhamento. A marcha “Rubato” é a mais tradicional de Chico, com acompanhamento que remete a uma banda de coreto, e também se refere à música, “venha, Aurora, ouvir agora, a nossa música”. Rubato (roubado) é um termo italiano do universo do canto em que o intérprete atrasa o tempo e compensa mais à frente. Chico divide com Wilson das Neves os vocais de “Sou Eu”, parceria com Ivan Lins, também não inédita (já foi gravada pelo sambista Diogo Nogueira). Nesta, o poeta está cheio de si, pois, apesar de a sua parceira flertar com todos no salão, é ele “quem manda no samba”, “quem brinca na área sou eu”, diz o alter ego malandro. O trabalho fecha com “Sinhá”, parceria com João Bosco, um relato de um escravo que quer se livrar da punição porque viu a Sinhá nua. O violão magistral de Bosco e as percussões dão o clima soturno/lírico deste afro-samba. Como situar este novo disco de Chico Buarque no atual panorama da MPB? Talvez a chave esteja mesmo nas palavras do alter ego malandro: “Quem nada no samba sou eu”. Quem manda faz o que quer, mas, mesmo assim, Chico ainda faz questão de atender ao seu público fiel.
FONTE: Revista Rolling Stone ed.59 agosto/2011;