segunda-feira, 21 de março de 2011

ADRIANA CALCANHOTTO - O Micróbio do Samba

Sem perder a pose, Adriana Calcanhotto cai no samba e se firma como a porta-bandeira da igualdade entre os sexos ao dar voz ativa à mulher no mundo ainda machista do samba. O CD "O Micróbio do Samba" põe a mulher no comando em fino repertório autoral que evoca esse universo carioca sem apegos às tradições. 
A guitarra do "hermano" Rodrigo Amarante em "Já Reparô?" - samba em que Calcanhotto diminui sua rival na disputa amorosa porque "ela não quebra, ela não balança" - é um dos indícios de que a compositora gaúcha faz samba à sua moda "cool".
É fato que nenhum dos dez sambas inéditos do disco supera a beleza dos dois já conhecidos, "Vai Saber" (gravado em 2006 por Marisa Monte) e a obra-prima "Beijo Sem" (gravado por Teresa Cristina em dueto com Marisa Monte), em que Calcanhotto insere a mulher sem culpa no mundo malandro orgástico da Lapa. Mesmo assim, "O Micróbio do Samba" é um disco interessante pela espirituosidade das letras e pela sonoridade que busca outros caminhos harmônicos para o samba ao mesmo tempo em que reverencia suas tradições. Em "Tá Na Minha Hora", Calcanhotto faz exaltação à Mangueira enquanto enquadra seu "neguinho". Escrita sob ótica masculina, "Vem Ver" subjuga o homem às condições impostas pela mulher e reitera o caráter feminino do CD. Que destila ironia, bem-vinda, já que o poder da criação sempre foi historicamente atributo masculino no mundo do samba.
FONTE: Jornal O DIA, segunda-feira, 21 de março de 2011




Não é de hoje que Adriana Calcanhotto flerta com o samba. Agora, em seu novo álbum, "O Micróbio do Samba", a cantora gaúcha engata um relacionamento com o gênero, mas que não chega a ser um casamento de papel passado. Calcanhotto faz samba do seu jeito. É minimalista, com uma cuíca aqui, um pandeiro ali.
As 12 músicas são assinadas por ela. Muita gente pode até estranhar ouvir na voz da intérprete as canções "Vai Saber?", gravada por Marisa Monte em "Universo ao Meu Redor"; e "Beijo Sem", escolhida por Teresa Cristina para seu último CD e parte da trilha sonora de "Insensato Coração". Mas Calcanhotto decidiu tomá-las de volta e dar seu próprio molho às composições.
Cercada de nomes valiosos no show bizz - Davi Moraes, Rodrigo Amarante, Domenico Lancelloti tocam no disco -, a cantora fica livre para criar um samba mulherzinha, com músicas que brincam com o universo quase machista do gênero. Exemplos? "Pode Se Remoer", "Deixa, Gueixa" e "Tá Na Minha Hora", canções nas quais elas é quem comandam as relações. E depois vão para o samba, não para afogar as mágoas, mas para dançar até o sol raiar.
FONTE: Jornal Extra, segunda-feira, 28 de março de 2011


Samba de Calcanhotto poderia até virar nome de um novo subgênero, já delineado nos últimos trabalhos da cantora - e agora assumido logo a partir do título (inspirado por frase de Lupicínio Rodrigues, gaúcho como ela). Para passear com leveza e sem ortodoxia pelo universo sambista, Adriana toca vários instrumentos e parece brincar de se afastar e se aproximar do que se espera normalmente do gênero. "Beijo Sem" e "Vai Saber?", já gravadas por Teresa Cristina e Marisa Monte, respectivamente, aparecem em versões menos sacudidas. E ficam valorizados versos como "ele acredita que me engano/ pensa que sabe mentir, o homem que eu amo", de "Mais Perfumado", bastante lupicinianos.
FONTE: Revista Billboard Brasil ed.18; Abril-2011




Injetando personalidade num universo geralmente abordado com excesso de reverência, a cantora propõe, ao longo de 12 faixas (todas compostas por ela, sendo uma com Dadi), um olhar renovado sobre o mais popular dos gêneros brasileiros. Convocar os inventivos Alberto Continentino (baixo) e Domenico Lancellotti (bateria e percussão) já é uma carta de intenções sonoras – e há ainda participações de Davi Moraes, Rodrigo Amarante e Moreno Veloso. Mas, para além de arranjos não ortodoxos e idiossincrasias como uma guitarra distorcida em “Pode Se Remoer” ou um piano camerístico em “Aquele Plano pra Me Esquecer”, chama atenção a entrada de uma mulher diferente na temática machista do samba. Em “Beijo Sem”, por exemplo, ela canta: “Vou à Lapa/decotada/ viro todas/beijo bem”. Esta, aliás, é uma das duas não inéditas (e melhores) do álbum, tendo sido gravada por Teresa Cristina – a outra é “Vai Saber?”, registrada por Marisa Monte
FONTE: Revista Rolling Stone ed.56; Maio-2011

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